NELSON MOTTA, Folha SP 30/3/2007

Cidade envenenada

RIO DE JANEIRO - O governador Sérgio Cabral foi corajoso, mas tardio, ao abrir o debate sobre a descriminalização de drogas como fator de redução da violência carioca, que se origina no tráfico e atinge a imensa maioria dos que não vendem nem consomem.
Só pagam a conta.
Agora é tarde demais para o Rio. Com a legalização, eles não abririam lojinhas de doces. Seriam legiões de bandidos desempregados e armados descendo sobre a cidade indefesa. A falência do tráfico seria compensada com assaltos, seqüestros e arrastões
Ou pior.
Na pacífica Amsterdam, que os holandeses temiam que se transformasse em uma cidade de drogados, dez anos depois da liberação, o site oficial da prefeitura registra que os 8% de consumidores habituais de 1996 se reduziram a 4% da população adulta. Aumento só de turistas, que a visitam como uma Disneylândia de doidões. No mesmo período, sob fogo cerrado da repressão, os consumidores ilegais nos Estados Unidos cresceram de 9% para 13%.Mas como explicar que Nova York, com seu poder econômico e seu consumo de drogas muito maior que o do Rio de Janeiro, tenha uma criminalidade muito menor? E como, apesar do tráfico, eles reduziram a corrupção policial, os assaltos e os assassinatos aos níveis dos anos 60?No Rio, a população está muito mais preocupada com a sua segurança e a de sua família do que se alguém está comprando ou vendendo maconha ou cocaína. Sem cinismo ou hipocrisia: faria muito mais sentido se a força policial estivesse protegendo os cidadãos nas ruas do que subindo morro atrás de vendedores e compradores de veneno.Se a guerra ao tráfico não fosse uma prioridade máxima, uma inútil obsessão, a polícia teria mais tempo, homens e armas para defender a população.

OPINIÃO HORA DA VERDADE

O tema descriminalização das drogas é um dos mais importantes da atualidade. A lei seca das drogas, só traz crimes, corrupção ,abusos e insegurança.

Nelson Mota analisa bem quando vê os reflexos positivos na Holanda, mas erra ao comparar Rio a NY e erra mais ao indicar tolerância 100 para o tráfico, quando NY melhorou sua segurança, principalmente graças ao tolerância ZERO e a pesados (e inteligentes) investimentos feitos em segurança, MAS NÃO ELIMINOU O PROBLEMA E CONTINUA A ENRIQUECER OS TRAFICANTES DE TODO O MUNDO.

Deixar a Lei em vigor e ignorar a ação dos traficantes é de suma ingenuidade. A ingenuidade vem principalmente ao considerar que os bandidos tenham a disciplina de atuar apenas na sua especialização - tráfico de drogas - , deixando a população sossegada.

Não é o que acontece. Os "soldados e capitães" do tráfico praticam toda espécie de crimes, financiados (armas, veículos, esconderijos, corrupção e aliciamento de comparsas) pela entrada regular de recursos provenientes do tráfico.

Na verdade, os traficantes "populares" já estão perdendo terreno para os produtos industrializados (ecstasy, etc) que são fornecidos por outros canais, basicamente por jovens da classe média (novamente o crime corrompendo a juventude).

A teoria de desemprego dos soldados do trafico não tem base, pois todos eles já praticam todos os demais crimes. Ou alguém acha que um rapaz com uma pistola automática no bolso fica satisfeito com R$500,00 por mês que o traficante - na melhor das hipóteses - lhe paga?

Por essas e muitas outras mais, o Governador Sergio Cabral deve ser apoiado em sua corajosa abordagem no combate efetivo à criminalidade.