VIOLENCIA GRATUITA E.... BANAL

domingo, agosto 30, 2009 1:31 PM Postado por MAM
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Tenho a satisfação de ter como amigos um casal de médicos, que são daquele tipo fora-de-série.


Sempre solidários, gentis, muito competentes, ele é Geriatra e ela Pediatra.

Duas especialidades que demandam muita dedicação e paciência, pelo perfil médio de pacientes nessa faixa etária.

Eles atendem em hospitais em Atibaia, cidade escolhida como refugio nas montanhas por milhares de paulistanos, exauridos pelo estresse da grande metropole.

Pois bem, há duas semanas atrás, fiquei perplexo quando soube da seguinte ocorrência :

Estava nossa querida amiga atendendo uma fila enorme de pequenos clientes no hospital, quando a encarregada da recepção entrou em seu consultório preocupadísima : uma cliente estava fazendo um tumulto, com gritaria e agressões verbais (à beira das físicas), porque estava havendo demora no atendimento (situação hoje normal no Brasil).

Dado o descontrole da cliente e o incomodo que a mesma estava causando a muitos clientes que aguardavam sua vez, a moça pediu à nossa amiga médica que abrisse um "encaixe" e atendesse à cliente descontrolada.

Escolhera ela, entre os vários médicos presentes, por sua reconhecida paciência e cordialidade.

Pois bem, resumindo : a paciente enfurecida ao ser recebida com seu filho no consultório, continuou vociferando e gritando, sem atender aos apelos de calma, calma, calma ...

Não permitiu que a pediatra examinasse com as cautelas próprias seu pobre filho (imaginem o que se passava pela mente da criança).

Queria rapidez, rapidez, e a médica, profissional responsável, não concordou em fazer um diagnóstico nessas condições.

Foi o bastante !

A estressada senhora, retirou-se xingando a todos e ameaçando a denunciar a médica no Conselho Regional de Medicina e na Delegacia de Policia.

Quando seria normal imaginar-se que, após algum tempo, a referida cliente se acalmasse e verificasse o vexame que provocou e se desculpasse com todos, o que aconteceu é que ela ainda se manteve sob o domínio da raiva e cumpriu suas ameaças....

Agora vou acompanhar como advogado, o desfecho dessa loucura...

Mas quando lí a coluna do Walcyr Carrasco, que reproduzo a seguir, entendi que esse tipo de acontecimentos de violência gratuita, já está banalizado neste nosso Brasil, tão deficiente em todos os serviços, mas principalmente no básico do básico : na EDUCAÇÃO !!!

Mas diferente do que aconteceu no relato do Walcyr, a gentileza e a educação não superaram o impeto da violência.

Mario Arcangelo Martinelli


WALCYR CARRASCO

Violência gratuita

| 26.08.2009

Recentemente, fui ao dentista. Na primeira consulta, a certa altura, o doutor Laércio, especialista em implantes, comentou:

– Eu não entendo o motivo de tanta violência.

Há algum tempo, implantou doze dentes em um paciente. O rapaz dirigia quando foi fechado por outro veículo. Brecou. O outro motorista saiu gritando, irritado por alguma manobra que ele havia realizado. Foi atacado com socos e chutes. Sem conseguir se defender, apanhou até depois de cair no chão. Mais tarde, em um hospital, constatou a perda dos dentes. Segundo Laércio, não foi o único caso. Muitas pessoas espancadas recorrem a ele para refazer a boca.

– O que me choca no que ouço é a falta de motivo para tanta fúria – concluiu.

Não foi a primeira vez que ouvi sobre o assunto. Meses atrás um amigo estava com um casal e outro rapaz no vão do Masp, conversando na mureta. Um grupo de desconhecidos se aproximou, xingando. E partiu para cima deles. Não era assalto. Mas violência pura e simples. Perseguido por uma dupla, meu amigo disparou em direção à Fundação Getúlio Vargas. Quase alcançado, viu a porta da garagem de um prédio se fechando. Atirou-se lá dentro. Pensando se tratar de um assaltante, o porteiro gritou por socorro e se trancou na guarita. O rapaz quis explicar que fugia de agressores e precisava telefonar. Inútil. O homem chamou a polícia. Levado por uma viatura, só foi solto na delegacia onde seus amigos, machucados, prestavam queixa.

Já vi gente enfurecida na fila do check-in do aeroporto: certa vez uma passageira passou na minha frente louca da vida, gritou com a funcionária da companhia aérea, fez um escândalo. Temia perder o voo e não adiantou lhe explicarem que todos da fila embarcariam no mesmo horário. Não houve violência física, mas a mocinha do check-in foi chamada de idiota e estúpida! Os ataques corporais parecem cada vez mais frequentes. Uma conhecida assistiu a um desses episódios. Do outro lado da rua passavam dois garotos, aparentemente gays. Em sua direção vieram quatro skinheads. Sem aviso prévio, atiraram-se sobre os dois! Um voou para dentro de uma estação de metrô logo ali. Sob pontapés, o segundo conseguiu rolar também até a estação e se livrar. Há histórias de prostitutas atacadas por rapazes de classe média – a mais falada delas aconteceu há algum tempo no Rio de Janeiro. Para muitos moradores de rua, o espancamento é uma possibilidade cotidiana.

São comuns as brigas em casas noturnas, às vezes por causa de uma garota, outras sem razão nenhuma.

O tema me dá angústia. Não consigo entender tantas explosões gratuitas de violência. Certa vez um amigo me deu uma lição de como se comportar nesse tipo de situação. Vínhamos de carro quando uma moto dobrou a esquina a toda a velocidade. Distraído, quase batemos, mas o acidente foi evitado. Mesmo assim, o motoqueiro nos perseguiu por vários quarteirões, xingando, a toda a velocidade. Finalmente, emparelhamos em um sinal. Meu amigo abriu o vidro e disse gentilmente:

– Desculpe. Eu não vi que você vinha. Sinto muito.

A gentileza desarmou o agressor: ficou mudo, imóvel. O sinal abriu. Fomos embora e ele tomou seu caminho. Não sou otimista a ponto de acreditar que esse tipo de atitude sempre resolve. Pelo contrário: no auge da raiva uma pessoa perde a capacidade de ouvir.

Queria oferecer uma solução. Não sei qual. Como cidadão eu me sinto frágil e desamparado por não saber o que me espera quando dobrar a próxima esquina.



PS: sou um admirador do Walcyr. Reparem que sua sensibildade social detecta sempre temas atuais e muito importantes para nossa convivência nesta nave chamada Terra !


Mario Arcangelo Martinelli


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